JOCKEY CLUB CAMPINAS

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O Jockey Club Campineiro, situado no coração histórico da cidade, não apenas resiste ao tempo, ele também conta uma parte importante da história de Campinas.

Localizado na Praça Antônio Pompeu, ao lado do marco zero de Campinas, o edifício inaugurado em 1925 não representa apenas um patrimônio arquitetônico na região central. Ele simboliza um modo de viver, construir e organizar a cidade nos moldes da elite do café no início do século XX. O tombamento em 1994 transformou-o em um dos maiores ícones da memória urbana campineira.

Jockey Club Campinas
Jockey Club Campineiro | Foto: Luiz Granzotto - Acervo PMC

Um prédio monumental ao lado do marco zero de Campinas

A sede definitiva do Jockey Club Campineiro começou a ganhar forma nas primeiras décadas do século XX. Naquele período, a cidade acelerava seu processo de urbanização.

Sua localização não poderia ser mais simbólica. O edifício está ao lado exato do marco zero da cidade, entre as Ruas Barão de Jaguara e Dr. Quirino, e entre as Ruas Benjamin Constant e Thomás Alves, núcleo histórico de Campinas.

Christiano Stockler das Neves elaborou o projeto arquitetônico, e o engenheiro Augusto Lefèvre conduziu as obras. A construção começou em 1914, mas sofreu diversas interrupções, devido às epidemias e recursos financeiros limitados. Depois de anos de espera, finalmente, concluíram o prédio em dezembro de 1925.

O edifício foi inicialmente planejado para sediar o Club Campineiro, uma instituição dedicada às atividades sociais da elite urbana. Somente em 1957, as duas instituições — o Jockey Club de Campinas e o Club Campineiro — se fundiram. A união aproximou o universo das corridas ao das festas, bailes e encontros diplomáticos sob o nome de Jockey Club Campineiro.

Jockey Club Campineiro, um edifício com muito estilo

A edificação de 1.371,80 m² se destaca pelo estilo eclético. Ela combina características art nouveau e elementos neo renascentistas inspirados nos palacetes franceses, tão admirados pela elite da época.

A fachada frontal transmite simetria e monumentalidade, com colunas coríntias, frontões triangulares e decoração em relevo. Internamente, os construtores usaram materiais nobres, como ladrilhos hidráulicos, esquadrias de madeira de lei e estruturas metálicas.

O prédio abriga um patrimônio artístico e arquitetônico de grande valor. Ele ainda mantém em funcionamento o primeiro elevador da cidade, um modelo em ferro dourado de 1906. O equipamento é conduzido por ascensorista e possui grades sanfonadas no lugar de portas convencionais. Conservado em perfeito estado, esse elevador representava inovação técnica, status e modernidade.

Imagens: Jockey Club Campineiro

Entre os tesouros do interior, destaca-se um piano de cauda Zeitter & Winkelmann, fabricado na cidade alemã de Braunschweig em 1918. Durante décadas, ele animou saraus da elite campineira. O CONDEPACC, durante o processo de tombamento, identificou quadros de artistas que compõem um acervo significativo. Além disso, o conjunto de bens móveis inclui mobiliário de época, espelhos antigos e outros elementos decorativos que remetem ao fausto da era cafeeira. Em 2013, projetos específicos iniciaram a restauração desses objetos.

Origem das corridas de cavalo em Campinas

Os primeiros registros de corridas de cavalo em Campinas remontam à década de 1870, quando se disputavam provas improvisadas ao longo do traçado onde mais tarde surgiria a Avenida Andrade Neves. A proximidade com a estação ferroviária facilitava o transporte de cavalos vindos de São Paulo, e o ambiente ao redor era marcado por botequins, folhagens e uma estrutura rústica, como descreve uma edição comemorativa da Gazeta de Campinas: “o aspecto durante as corridas […] era de festivo arraial. O povo corria pressuroso às festas”.

Imagem ilustrativa criada com IA a partir de descrição histórica

O entusiasmo popular e o envolvimento de figuras influentes da cidade impulsionaram a criação do Hipódromo do Bonfim. Entre os nomes centrais desse processo estavam Joaquim Ferreira Penteado, que doou os terrenos; Francisco de Camargo Penteado e Francisco José de Camargo Andrade, ambos fundadores; e Joaquim de Paula Souza, defensor do projeto na imprensa. Em 1º de setembro de 1878, era eleito o primeiro presidente da então chamada Sociedade Campineira Club de Corridas, Luís Antonio de Pontes Barbosa, sucedido posteriormente por nomes de peso como Manuel Ferraz de Campos Salles.

Hipódromo do Bonfim  |  Imagens: CMU – Centro de Memória Unicamp

A inauguração do primeiro hipódromo oficial da cidade ocorreu no dia 29 de setembro de 1878, reunindo cerca de seis mil pessoas — um evento que marcou o calendário social campineiro e consolidou o turfe como elemento central da vida da elite local. No entanto, após a epidemia de febre amarela de 1889, as atividades foram descontinuadas, e o cenário das corridas só voltaria a se reerguer em 1927, com nova força.

Você sabia?

O Hipódromo do Bonfim, além das tradicionais corridas de cavalos, também recebeu jogos de futebol em um campo preparado no meio das raias da pista. Entre 1912 e 1936, diversos dérbis campineiros entre Guarani e Ponte Preta foram realizados no estádio do hipódromo, incluindo confrontos históricos que marcaram a rivalidade entre os dois clubes.

Já em 1925, foi inaugurado um novo edifício voltado às atividades sociais da elite urbana: o Clube Campineiro. Somente em 1957, as duas instituições — o Jockey e o Clube Campineiro — se fundiram formalmente, unindo o universo das corridas ao das festas, bailes e encontros diplomáticos sob o nome de Jockey Club Campineiro.

Transformações, decadência e reocupação

Assim como aconteceu com diversos clubes sociais no Brasil, o Jockey Club Campineiro sentiu os efeitos das mudanças no modelo de sociabilidade da elite ao longo do século XX.

O declínio das corridas

O turfe em Campinas, que por décadas centralizou as atividades do clube, entrou em declínio a partir da década de 1970.

A trajetória dos hipódromos campineiros confirma essa transformação. O Hipódromo do Bonfim, onde funcionavam as corridas desde 1878, foi desapropriado pela Prefeitura Municipal em 1965. No terreno, construíram o viaduto da Avenida Lix da Cunha e, posteriormente, instalaram uma unidade do SESC.

As corridas passaram para o Hipódromo Boa Vista, que funcionou de 1968 a 1974. Contudo, esse novo local não atraiu o mesmo público.

Hipódromo Boa Vista - Imagem: Google Earth

Em 8 de maio de 1974, Campinas recebeu o último páreo oficial. A reabertura do Hipódromo de Cidade Jardim, em São Paulo, com páreos diários, esvaziou de vez o turfe campineiro. Posteriormente, venderam o terreno do Boa Vista, hoje ocupado pelo Centro de Treinamento de Campinas, pertencente ao Jockey Club de São Paulo.

Um novo uso cultural para o Jockey Club Campineiro

Sem as corridas, o clube perdeu parte de sua função original. Na década de 1980, cessaram definitivamente as atividades ligadas ao turfe. Restou apenas o uso social e eventual do edifício. Ainda assim, o prédio histórico sobreviveu ao abandono que destruiu outras construções semelhantes.

O Jockey não foi demolido nem esquecido. Em vez disso, passou por tombamento, restauração e reocupação com finalidade cultural. Atualmente, abriga eventos, exposições e atividades da Secretaria Municipal de Cultura de Campinas. Esse movimento simboliza resgate e democratização do espaço.

Tombamento e preservação

O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC) tombou o edifício em 1994, não apenas por sua estética, mas pelo valor histórico e simbólico que carrega. Integrado ao Inventário do Patrimônio Arquitetônico de Campinas, o prédio tem hoje proteção legal contra intervenções que possam desfigurá-lo.

Preservar o Jockey Club Campineiro é, acima de tudo, preservar a cidade que se construiu ao seu redor. Ele permite refletir sobre o papel das elites, sobre a arquitetura como forma de poder, e sobre como a memória se manifesta nas paredes, nos salões e nos detalhes ornamentais.

Restauração arquitetônica

Entre 2018 e 2019, o Jockey Club Campineiro passou por uma restauração rigorosa. Recuperaram janelões, pisos e o madeiramento ornamental das sacadas, além de restaurarem o piano e a mobília centenária. Também substituíram a rede hidráulica, instalaram iluminação em LED nos salões e na fachada e encomendaram 14 000 telhas francesas idênticas às originais, produzidas em Laranjal Paulista. A obra, conduzida por equipe especializada, custou cerca de R$ 1,15 milhão e devolveu ao edifício o brilho histórico que o tombamento prometia preservar.

Conclusão

O Jockey Club Campineiro, hoje tombado e restaurado, é mais do que um prédio elegante no centro da cidade: é um capítulo vivo da história de Campinas. Erguido ao lado do marco zero, ele testemunhou transformações sociais profundas, abrigou decisões políticas, e simbolizou um tempo em que a cidade era conduzida por símbolos de distinção e monumentalidade.

Transformar esse espaço, antes reservado à elite, em um centro de cultura acessível é uma vitória da memória democrática. É permitir que o passado continue sendo contado — não como saudade, mas como reflexão sobre o que fomos, o que somos e o que queremos preservar.

Horário e informações

Endereço:

Praça Antônio Pompeu, 39 – Centro

Visitas somente sob agendamento

Bibliografia e referências

  • Site oficial do Jockey Club Campineiro [link]
  • Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC) – Atas e processos de tombamento
  • IAB – Inventário Patrimonial do Bem Arquitetônico – Jockey Clube Campineiro [link]
  • Wikipedia – Jockey Club Campineiro 
  • Hora Campinas – A batalha do Hipódromo: o polêmico Dérbi que terminou em confusão há 107 anos [link]
  • Correio Popular – Jockey inaugura visual restaurado  [link]

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