A Escola de Cadetes de Campinas, oficialmente Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), ergue-se na área da antiga Fazenda Chapadão como um dos símbolos mais imponentes da cidade. Além de um centro de ensino militar de referência nacional, tornou-se um marco histórico e cultural, que impressiona moradores e visitantes de Campinas.
Esse valor simbólico foi reconhecido pela própria população, que elegeu a Escola de Cadetes como uma das 7 Maravilhas de Campinas, consagrando-a como patrimônio que ultrapassa os limites de sua função militar, compondo um dos cartões-postais mais admirados da cidade.

A construção em estilo colonial espanhol reúne grandiosidade e elegância, foi idealizada pelo engenheiro-arquiteto paulista Hernani do Val Penteado, que assim definiu o projeto: “O referido projeto consiste em um conjunto de quatro pavilhões, ao redor de enorme praça de armas, contando, para maior facilidade de circulação, com grandes galerias na face interna. Por que quatro pavilhões? Porque três se destinariam aos alunos em preparação para cada uma das três armas (Marinha, Exército, Aeronáutica), ficando o quarto com o curso básico, formado pelo primeiro ano”. Apesar dessa primeira intenção de uso, os pavilhões sempre foram destinados exclusivamente ao Exército.
Hoje em dia, dos 4 pavilhões, 3 deles são destinados às 3 companhias de alunos: Águia, Leão e Pantera e 1 pavilhão destinado exclusivamente para as mulheres.

A cor rosa original não era pintura e sim a cor do reboco, uma mistura de cal e corante, que tinha sido utilizada para revestir as casas da antiga Fazenda Chapadão, área onde foi construída a Escola.
Ainda que não hajam documentos que comprovem, acredita-se que foi um pedido da ex-proprietária que vendeu a área da Fazenda Chapadão ao estado, para que a nova Escola mantivesse a cor das casas coloniais da Fazenda, sugestão que foi aceita ou inspirou o engenheiro-arquiteto Hernani do Val Penteado.
Outro fato que ainda gera dúvidas é se essa idéia da utilização da cor/método de revestimento foi concebida desde a criação do projeto em 1944 ou posteriormente, em uma visita realizada pelo arquiteto em 1970, quando finalmente se deu o acabamento final à obra.

Nessa mesma visita, Hernani doou o desenho original da fachada à Escola (foto acima). Nele não conseguimos apreciar a cor rosa, o que poderia comprovar que o projeto não foi concebido assim. Outra possibilidade é que a tonalidade rosa suave do desenho a lápis e aquarela, poderia ter desbotado com o tempo.
Através de uma pequena parte do reboco que se desprendeu (foto abaixo à esquerda), conseguimos ver por cima dos tijolos uma primeira camada de reboco natural e logo acima outra camada final com o reboco rosa.
Uma grande parte das paredes da Escola ainda estão revestidas com o reboco original, outras, como a fachada principal e outras áreas, foram pintadas com tinta rosa. Existe uma diferença entre a cor do reboco original e a cor da tinta (foto abaixo à direita).
A área externa da Escola é composta por amplos jardins e pela imponente fachada principal, voltada para a Avenida Papa Pio XII. A Torre Duque de Caxias, situada ao centro do conjunto, é o ponto mais alto e o principal símbolo visual da EsPCEx. O pátio interno, conhecido como Pátio Agulhas Negras, é cercado por galerias cobertas que conectam os pavilhões e servem de espaço para formaturas e eventos oficiais. A harmonia entre a volumetria do edifício e o cuidado com os jardins reforça o caráter monumental e histórico do conjunto arquitetônico.






Imagens: Museu Virtual de Campinas
Este espaço conta com diversos itens e relíquias doadas por antigos alunos e colaboradores contendo móveis, armamentos, documentos, arte, fotografias, equipamentos de imagem, som e comunicação, entre outros.
Espaço nobre da Escola, que é utilizado para recepção de autoridades e despedida de oficiais, também guarda algumas relíquias, entre elas, o monumental conjunto de lustres e arandelas de cristal da Boêmia vindos do antigo Teatro Municipal Carlos Gomes, demolido em 1966. Esses lustres somam centenas de peças de cristal, sendo o principal deles um colosso de mais de 600 kg e cerca de 1.200 cristais.
Instalados na EsPCEx em 1974 e tombados em 1996, estão sob guarda perpétua da Escola.




Imagens: Museu Virtual de Campinas
Em frente ao Salão Carlos Gomes, ainda se preservam partes do piso original da Escola.
Espaço de devoção e tradição dentro da EsPCEx, a capela foi projetada também por Hernani do Val Penteado no mesmo estilo colonial espanhol do prédio principal, após sua visita em 1970 e construída pelos soldados do pelotão de obras da turma de 1971. Nela está o restante do conjunto de lustres e arandelas do antigo Teatro Carlos Gomes.




Imagens: Museu Virtual de Campinas
Nas galerias internas ao redor do Pátio Agulhas Negras, estão expostas as placas dos formandos das turmas desde 1963 até os dias de hoje.

A história da formação de cadetes começa em 1939, quando o tradicional Colégio Militar de Porto Alegre foi transformado em Escola de Formação de Cadetes, mais tarde chamada Escola Preparatória de Porto Alegre (EPPA). O sucesso foi tão grande que logo ficou evidente a necessidade de novas unidades. Em 1940, pelo Decreto-Lei nº 2.584, nascia a Escola Preparatória de Cadetes de São Paulo (EPSP), instalada provisoriamente em um edifício cedido pelo governo paulista, onde, atualmente, funciona o Hospital Sírio Libanes. Dois anos depois, surgia também a Escola Preparatória de Fortaleza (EPF).

O crescimento da procura pela carreira militar levou à ideia de erguer em Campinas um prédio próprio, monumental, capaz de acolher gerações de jovens vindos de todo o Brasil.
As obras tiveram início em 1944, quando o Estado de São Paulo comprou de Octaviano Alves de Lima por Cr$ 300.000,00, 20 alqueires da antiga Fazenda Chapadão, um dos primeiros engenhos de açúcar de Campinas ainda no século XVIII e, no mesmo decreto-lei, autorizou a doação desse terreno à União para a sede da Escola Preparatória de Cadetes, com cláusula de reversão caso a obra não se concluísse em cinco anos.

Devido a grandiosidade da construção e a falta de recursos, a obra ficou paralisada e o esqueleto imenso permaneceu inacabado durante anos. Com isso, na década seguinte, a transferência precisou ser reaprovada: em 26 de agosto de 1958, a Assembléia Legislativa autorizou novamente a doação dos imóveis ao Ministério da Guerra, o que pavimentou a mudança efetiva da Escola para Campinas em 1959.
Mas antes mesmo da transferência oficial, os cadetes da Escola de São Paulo já tiveram contato direto com Campinas. Em 1958, as tradicionais manobras anuais de instrução militar — ponto alto da vida escolar e momento de avaliação prática dos conhecimentos adquiridos — foram realizadas de forma inédita na área da Fazenda Chapadão, futuro endereço da Escola.
Os alunos sabiam que seriam submetidos a novidades em relação aos anos anteriores, mas não conheciam o local nem os detalhes do que fariam. A revelação veio de súbito, às vésperas do deslocamento: o destino seria Campinas.
Numa madrugada nevoenta, embarcaram em uma composição ferroviária na capital paulista. Após viagem de hora e meia, desembarcaram na Estação Ferroviária de Campinas, sob chuva intensa que se arrastava havia dias. Da estação, seguiram pela longa e íngreme Avenida Andrade Neves, enfrentando o barro e a subida difícil.
No alto, próximo à Torre do Castelo, avistaram pela primeira vez o imenso edifício, ainda inacabado, projetado por Hernani do Val Penteado. Mesmo sem acabamento, sua imponência já se fazia notar, erguendo-se como marco na paisagem campineira. Aqueles jovens estavam diante do espaço que, no ano seguinte, se tornaria oficialmente a nova sede da Escola.




Imagens: Acervo EsPCEx
Durante vários dias, os alunos ocuparam as instalações em construção, improvisando alojamentos e realizando intensos exercícios práticos: marchas, simulações de combate, patrulhas noturnas. As paredes ainda nuas e os corredores inacabados foram palco do aprendizado vivido.
No encerramento, ocorreu um desfile diante da população e das autoridades locais. A cidade, curiosa e receptiva, acompanhou de perto a movimentação dos jovens militares. Foi como um ensaio simbólico: Campinas recebia a Escola pela primeira vez, antes mesmo da mudança oficial.
No ano seguinte, em 23 de janeiro de 1959, o Decreto nº 45.275 transferiu oficialmente a Escola de São Paulo para Campinas, agora sob o nome de Escola Preparatória de Cadetes de Campinas (EPC).
A nova fase, no entanto, trouxe também incertezas. Em 1961, o Decreto nº 166 extinguia as Escolas Preparatórias, prevendo o fechamento da EPC até 1963. O concurso de admissão seria suspenso e muitos acreditaram que a imponente construção campineira jamais cumpriria plenamente sua função.
Mas a cidade reagiu. Autoridades civis, lideranças militares e a própria população de Campinas se mobilizaram em defesa da Escola, que já se tornara um símbolo local, mesmo sem décadas de tradição. Essa pressão surtiu efeito: em 27 de novembro de 1963, o Diário Oficial da União publicou a revogação do artigo que decretava sua extinção.



Imagens: Acervo EsPCEx
A partir daí, a Escola seguiu firme em sua missão. Em 1967, recebeu o nome que carrega até hoje: Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). Mais do que sobreviver às dificuldades, consolidou-se como instituição formadora de futuros oficiais e como um orgulho permanente da cidade de Campinas.
Atualmente, a EsPCEx é reconhecida nacionalmente como a porta de entrada para a carreira de oficial combatente. Desde 2012, abriga o primeiro ano do curso superior de Ciências Militares, que se completa na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende (RJ). A Escola de Cadetes Campinas recebe jovens de todo o Brasil em regime de internato, oferecendo formação acadêmica, treinamento físico e instrução militar.
Em 2017, pela primeira vez, mulheres ingressaram no curso, transformando esse espaço tradicional em um ambiente mais plural e contemporâneo. Hoje, a instituição recebe cerca de 440 alunos por ano, que levam consigo a marca de Campinas no início de sua trajetória militar.





Imagens: Acervo Prefeitura Municipal de Campinas – Carlos Bassan / Toninho Oliveira / Firmino Piton
O reconhecimento da importância histórica e arquitetônica da Escola Preparatória de Cadetes do Exército foi oficializado em 2010, quando o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC) promoveu o tombamento do conjunto. O ato consolidou a EsPCEx não apenas como um marco da formação militar brasileira, mas também como um patrimônio cultural da cidade — testemunho da arquitetura monumental de meados do século XX e do vínculo profundo entre a instituição e Campinas.
O tombamento abrange:

Embora seja uma instituição militar em funcionamento, a Escola de Cadetes mantém vínculos profundos com a comunidade campineira. Visitar a EsPCEx é experimentar um encontro entre o passado e o presente, entre a disciplina militar e a riqueza cultural de Campinas.
Para grupos de até 8 pessoas não é necessário agendamento.
Horário de visitação individual
Para visitas institucionais e grupos maiores de 8 pessoas, somente por meio de agendamento mediante Ofício da Instituição solicitante.
* Para a visita, o visitante não poderá estar de chinelos, bermuda, camiseta regata, roupas demasiadamente curtas ou justas.
* Alguns dos atrativos históricos mostrados nesse acervo não fazem parte da visitação individual ou grupos.
Endereço
Av. Papa Pio XII, N 350 – Jardim Chapadão – Campinas – SP – CEP: 13070-903
Contato
E-mail: rp@espcex.ensino.eb.br
Site: www.espcex.eb.mil.br
Bibliografia e referências
Feito com ❤️ em Campinas